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Manifesto: “Vozes por Liberdade: A Democracia é Antimanicomial”

  • sitelibertas
  • 26 de abr. de 2016
  • 3 min de leitura

“cantamos porque nossos mortos querem que cantemos”

Mario Benedetti


Cantamos por que assim também se faz luta. Cantamos, dançamos, marchamos, derrubamos muros, por que é assim que construímos nossa história de desconstrução. A história da Luta Antimanicomial é também a história da luta pela justiça e pela liberdade. É onde encontramos sentido, em toda a sua complexidade, ao significado constitucional de direito de todos e dever do estado. Analogamente às nossas lutas mais atuais, é um movimento que preenche as ruas, as políticas, as instituições e os corações. Faz tempo que o nosso povo não admite mais que muros e grades continuem travestindo poderes e interesses de mercado em cuidado e segurança, legitimando o processo de desumanização e banalização da violência sistemática que o estado brasileiro sofre. Uma sociedade que permite que seus doentes agonizem de sofrimento é doente também. Ideologicamente doente, politicamente doente, esteticamente doente, democraticamente doente. Assim como todo o resto da população brasileira, às pessoas com transtorno mental e aos usuários de álcool e outras drogas é estranhamente permitida uma completa ausência de rede de serviços de qualidade; condições de trabalho precarizadas; assistência farmacêutica fragilizada; e também a nomeação de um torturador para coordenação de saúde mental do ministério da saúde (o psiquiatra Valencius Duarte) e um processo de impeachment equivocado capitaneado por um dos maiores inimigos do SUS e do estado democrático de direito (o deputado federal Eduardo Cunha) são alguns posicionamentos manicomiais e antidemocráticos presentes em nosso cotidiano.


O dia nacional de Luta Antimanicomial nos convoca a um posicionamento político frente a todas as atrocidades que vem sendo impostas ao povo brasileiro, e que historicamente foram impostas às pessoas com transtorno mental. É tempo de escolhermos um lado. Chega de olharmos paralisados do lado de fora da grade. Chega de termos nossas vozes silenciadas. É preciso estar ao lado da garantia direitos e de ter o direito ao delírio. A Reforma Psiquiátrica que queremos não acontecerá em qualquer tipo de sociedade e ela só poderá ser implementada através de lutas populares legítimas, numa democracia conquistada por brasileiros e brasileiras, tal qual, no fim da década de 1980.

Propomos o simples: a construção de ambientes plurais, populares e terapêuticos onde as pessoas se misturem e não sejam facilmente identificadas por olhares carregados de estigmas e violências institucionais, também falamos de uma sociedade onde todos e todas tenham acesso de forma universal e equânime à saúde, educação, esporte, lazer, transportes, ir, vir, sorrir, delirar.

Lamentamos que essa Reforma Psiquiátrica que almejamos se faz distante dos atuais ainda existentes hospitais psiquiátricos, manicômios judiciários, residências terapêuticas terceirizadas, comunidades terapêuticas; serviços substitutivos precarizados, ausência de Centros de Convivência, práticas manicomiais, Eduardos Cunhas, Golpes à democracia e retrocesso na garantia de direitos.


Não podemos deixar de citar nesse manifesto, a título de indignação e de gratidão, a tentativa de silenciar, através de assassinato cruel, o companheiro Marcus Vinícius. Marcus nos ensinou que não tem Reforma Psiquiátrica sem Reforma Agrária, não tem universalidade do SUS sem demarcação de terras indígenas, não há uma Rede de Atenção Psicossocial de qualidade sem uma universidade pintada de Povo! O nosso Marcus Matraga se tornou agora uma saudade pulsante e uma referência certeira quando nosso cansaço teima em cansar.


Com todas as pernas fincadas no presente e os braços cheios de força para enfraquecer esse cenário fascista que se desenha a nossa frente, mas com os olhos no futuro não podemos nos furtar de lembrar que neste ano teremos eleições municipais. É preciso discernimento e atenção para não elegermos representantes manicomiais, antidemocráticos, privatizantes, latifundiários, racistas, homofóbicos e machistas. É preciso estarmos organizados politicamente em organizações diversas e não permitir que a grande mídia seja nossa única fonte de informações. De outro modo, a Reforma Psiquiátrica será cada vez mais ideal e cada vez menos real.


Em Maio acontecerá a IV Semana da Luta Antimanicomial de Pernambuco “Vozes por Liberdade: a Democracia é Antimanicomial”. Semana construída por muitas mãos. Mãos sedentas de que, ainda que tardiamente, possamos viver em uma sociedade sem manicômios. Construímos essa Semana, para encher de mística e esperança os corações daqueles e daquelas que acreditam que o Povo Brasileiro é senhor de seu destino. Para aqueles e aquelas que acreditam que outra forma de mundo é possível, e que nesse mundo, não cabe o manicômio, nem nenhuma de sua representação.

Que as vidas silenciadas, nossos gritos de desespero e o apelo pela vida nos conduza a mais uma Semana de Luta pela democracia porque não nos cansaremos, não desistiremos e não nos calaremos. Temos vozes. Vozes de liberdade. E nossas vozes gritam: A DEMOCRACIA É ANTIMANICOMIAL.


Recife, IV Semana da Luta Antimanicomial, 2016.

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