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A Análise Bioenergética como um meio para alcançar a plena excitação corporal

  • Vanessa C. B. de Carvalho Cruz
  • 15 de mai. de 2016
  • 6 min de leitura

A Análise Bioenergética é uma abordagem criada por Alexander Lowen que pretende entender a personalidade a partir de uma visão psicorporal, na qual mente e corpo interagem e se relacionam através dos processos e movimentos energéticos. Essa abordagem abrange também aspectos do caráter, buscando compreender e promover o conhecimento e o autoconhecimento, propondo um envolvimento maior e integral do corpo, das funções cognitivas, socioculturais e afetivas do indivíduo.

Possui base na teórica da Psicanálise Freudiana no que se refere à história analítica e à dinâmica familiar que, inscritas no corpo, conforme Reich, influenciam a estrutura corporal e o comportamento do indivíduo. Sendo assim, a Análise Bioenergética é uma psicoterapia profunda analítica, relacional e corporal.

Essa abordagem é uma técnica terapêutica que ajuda o indivíduo a reencontrar-se com o seu corpo, tirando o mais alto grau de proveito possível da vida que há nele. Essa ênfase dada ao corpo inclui a sexualidade, sendo essa uma das suas funções básicas. Mas inclui também as elementares funções de respiração, movimento, sentimento e autoexpressão, tais funções quando não são feitas pelo indivíduo corretamente, são reduzidas, restringindo, assim, a vida de seu corpo (Lowen, 1982).

As restrições frente a vida são imposições voluntárias que se desenvolvem como forma de sobrevivência no meio familiar e cultural, assim, negando os valores do corpo em favor do poder, do prestígio e dos bens materiais. Apesar disso, tais ressalvas são aceitas sem questionamentos e, consequentemente, o corpo é traído. Elas exercem grandes influências ao ser humano, podendo dar origem às inibições da vida genital.

Lowen (1982) postula que a natureza primária de um ser humano é ser aberto à vida e ao amor. Estar resguardado, encouraçado, descrente e fechado vem a ser a segunda natureza da nossa cultura. Essa é a forma que adotamos para nos proteger de sofrimentos, todavia quando tais atitudes tornam-se caracterológicas ou estruturais em nossa personalidade, passam a constituir uma dor ainda mais séria, provocando graves mutilações e adoecimentos.

Podemos dizer que a Bioenergética é uma aventura de autodescoberta, que difere de formas similares de exploração da natureza do ser por tentar e perseguir o objetivo de compreender a personalidade humana através de seu corpo.

De acordo com Lowen (1985), o que ocorre no corpo reflete o que está ocorrendo na mente, afinal os sentimentos afetam a maneira de pensar e vice-versa, mas isso em um nível inconsciente, assim, tanto o pensamento quanto o sentimento são condicionados por fatores energéticos.

Reich (1942/ 1995) pensando no que fazer para auxiliar os pacientes que se entregavam a relação sexual sem prazer, pois segundo ele, desse modo não se vivencia nenhuma sensação no momento da ejaculação; elabora em 1923 a sua teoria do orgasmo, cuja fórmula orgásmica consiste em: TENSÃO à CARGA à DESCARGA à RELAXAÇÃO. Segundo Rodrigues (s/d) essa fórmula foi de relevância para a formulação do conceito de pulsão de vida contrapondo-se a conceituação de pulsão de morte freudiana.

Sendo assim, Reich aprofunda-se cada vez nesse conceito, fazendo uma distinção entre potencia orgástica e potência ejaculatória. A primeira caracteriza-se como a capacidade de abandonar-se ao fluxo da energia biológica sem qualquer inibição, de descarregar completamente toda excitação sexual contida, por meio de contrações involuntárias agradáveis ao corpo, e a segunda como sendo a capacidade de pôr em funcionamento o órgão sexual.

Dessa forma, qual a relação da bioenergética com a excitação? Lowen (1988) argumenta que a excitação é um fenômeno energético, na qual o seu aumento impulsiona o organismo no sentido do objeto excitador, e a sua diminuição o afasta do mesmo. A excitação pode acontecer pôr estimulação física, psíquica ou ambas, e quando focalizada nos órgãos genitais, também não é diferente.

Logo, podemos observar uma ligação entre excitação e genitalidade, Reich (1942/ 1995, p. 90) relata:

A gravidade de todas as formas de enfermidade psíquica está diretamente relacionada com a gravidade da perturbação genital. As probabilidades de cura e o sucesso da cura dependem diretamente da possibilidade de estabelecer a capacidade para a satisfação genital plena.


Assim, a excitação é uma estimulação que faz movimentar a nossa vida, tanto biológica como psíquica, e uma das molas propulsoras para a nossa genitalidade e o nosso desenvolvimento psicorporal. Todavia, para que esse pleno desenvolvimento ocorra é necessário libertar-se das nossas repressões, causadas, não raro, pela aprendizagem e formação social.

Retomando o conceito de potência orgástica, na qual excitação e genitalidade estão intimamente relacionadas, Reich (1998) relata que o ser humano se protege do mundo exterior através de suas couraças, mas essas sufocam a força das pulsões. E, o crescimento do ser ocorre como o processo de dissolução da couraça psicológica e física, tornando gradualmente os seres humanos mais livres, abertos e capazes de gozar um orgasmo pleno e satisfatório.

Ainda de acordo, são várias as couraças: há a couraça do caráter – o caráter de uma pessoa é a soma total funcional de todas as experiências passadas, cumprindo uma secreta função de defesa e proteção. E, há também as couraças formadas e conhecidas por sete anéis: olhos, boca, pescoço, toráx, diafragma, abdome e pélvica, em cada uma há partes do corpo que são enrijecidas de modo a evitar o livre bem estar do corpo.

Reich conceitua também a estase sexual, uma energia não descarregada que causa mal-estar e nutre a neurose. Segundo Lowen (1977) a neurose é uma distorção na realidade entre um indivíduo e a realidade. Dessa forma, as estruturas de caráter neuróticas são determinadas por experiências traumáticas ocorridas em etapas iniciais da vida.

O caráter significa o modo de agir de uma pessoa, incluindo nesse comportamento o tom de voz, a postura, a vestimenta, dentre outras. Dessa forma, uma pessoa irá se relacionar com o outro e com objetos de acordo com os seus traços de caráter.

A existência de princípios morais rigorosos tem sido uma prova de que as necessidades biológicas, especialmente as necessidades sexuais do homem, não estão sendo satisfeitas. Assim, Reich (1982) afirma que a economia sexual aspira ao "comportamento moral" tanto quanto à regulamentação moral. Em todo o mundo, os homens lutam por uma nova organização da vida social. Travam suas lutas não somente sob as condições mais pesadas no campo social e econômico, mas também refreados, confusos e ameaçados pela própria estrutura psíquica.

Exemplos mostram o que é moral sexual-econômica hoje, e que ela antecipa a moral do futuro. Há cerca de 20 ou 40 anos, era vergonha para uma moça solteira não ser virgem antes do casamento, atualmente as moças de todos os círculos e camadas sociais, parecem desenvolver a ideia de que é vergonha ser ainda virgem com 18, 20 ou 22 anos.

A essência da regulamentação sexual-econômica encontra-se no fato de evitar exatamente o estabelecimento de regras ou normas absolutas e reconhecer os interesses da vontade e da alegria de viver como os reguladores da convivência humana.

Como a reforma sexual objetivava eliminar irregularidades na vida sexual social, identificou-se que sua existência encontrava-se nas doenças mentais da sociedade. As lutas em prol da reforma sexual fizeram parte da luta geral político-cultural. Reich descreve a problemática do casamento e da relação sexual permanente, afirmando que a impressão geral é que a certidão de casamento para o inconsciente do homem sexualmente tímido nada mais é do que uma permissão para manter relações sexuais, desse modo, a certidão de casamento continua exercendo sua influência puramente formal, desprovida de conteúdos de ligação (REICH, 1982).

Sendo assim, podemos dizer que embora os anos tenham se passado e que a revolução sexual tanto contribuiu para uma libertação e conhecimento do corpo, ainda, nos dias atuais mantemos nossas couraças em prol do bem estar sociocultural, marcado por regras morais. Embora falar sobre sexo não seja mais considerado tabu, ainda é tabu desenvolver com plenitude a intimidade, deixar-se guiar puramente pelo prazer, de modo a dar voz, autonomia, liberdade, expressão e responsabilidade ao nosso corpo.


REFERÊNCIAS

LOWEN, A. Amor e orgasmo: guia revolucionário para a plena realização sexual. Tradução Maria Silvia Mourão Netto. São Paulo: Summus, 1988.

_________. Bioenergética. Tradução Maria Silvia Mourão Netto. São Paulo: Summus, 1982.

_________. O corpo em terapia: a abordagem bioenergética. Tradução Maria Silvia Mourão Netto. São Paulo: Summus, 1977.

REICH, W. Análise do caráter. Tradução Ricardo Amaral do Rego. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

________. A função do orgasmo: problemas econômico-sexuais da energia biológica. Tradução Maria da Glória Novak. 19. ed. São Paulo: Brasiliense, 1942/1995.

________. A revolução sexual. Tradução Ary Blaustein. 8. ed. Rio de janeiro: Zahar, 1982.

RODRIGUES, H. J. L. F. Vegetoterapia e orgonomia. Rev. Viver mente e cérebro. Coleção memória da psicanálise. Pinheiros, SP, n. 6, edição especial, p. 44-49, s/d.


 
 
 

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